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Uma das coisas mais bonitas quando aprendemos idiomas é poder conhecer muitas culturas, intercambiar conhecimentos e experiências. Em algumas regiões este intercâmbio é tão intenso que não sabemos onde termina um país e onde começa o outro: estamos falando das zonas de fronteira, tema do nosso episódio de hoje!

Exploramos um pouco dos costumes dos povos que vivem em países diferentes, mas tão próximos e conectados, territorialmente, economicamente e culturalmente, que parecem ser um só.

Abaixo você tem a transcrição do episódio! Espero que você tenha gostado de saber um pouco mais da cultura fronteiriça!

¡Hasta pronto!

TRANSCRIPCIÓN

¡Hola! ¿Cómo estás? Hoy te acompaño yo, Cass Aragón, tu profe mexicana de Fluency Academy.

Seja bem-vindo, bem-vinda a mais um episódio do nosso Like a Native. É um prazer ter você aqui com a gente.

No nosso episódio de hoje vamos falar sobre algumas expressões de fronteira, isso mesmo, expressões que são muito usadas em cidades brasileiras que têm fronteira com países que falam espanhol, especificamente no sul, nos encontros entre Brasil, Uruguai e Argentina.

Lá no sul do Brasil, na ponta do Rio Grande do Sul, tem uma cidade bem pequena, Aceguá, que faz fronteira direta com uma cidade uruguaia, Aceguá Cerro Largo. Lá existe uma mistura muito grande de português com espanhol, porque as pessoas transitam e trabalham em ambas cidades sendo considerado um só lugar. Tanto brasileiros como uruguaios trabalham dos dois lados, Uruguai e Brasil, e disso surgem muitas mesclas na cultura e na língua desse povo.

Um ótimo exemplo disso é o “tchê”, que para muitos é originário do Rio Grande do Sul, mas na verdade a origem desta expressão vem do che da Argentina. Na Argentina é muito comum ouvir a expressão che para quase tudo. Por exemplo:

¡Che, enviáme el dinero!
Tchê, me envia o dinheiro.

O “tu”, muito usado na parte sul do Brasil, também é de uso comum do espanhol, na fala informal. O “tu” existe na língua portuguesa, mas não é muito usado em todas as regiões do Brasil. Ele é mais comum no Sul, onde pode ser conjugado como no espanhol: dizemos “tu vistes”, “tu estás”. Além desta conjugação, pode ter outras, mas isso é tema para um outro episódio, jajaja… Além do Sul, no Nordeste do Brasil podemos encontrar o uso do tu também, mas um pouco diferente.

Outra coisa bem comum no português brasileiro é se referir aos mais velhos como “senhor” ou “senhora”, certo? Já na fronteira é muito comum dizer doña. Como por exemplo, Doña Maria.

Algumas palavras são mais comuns da fala do gaúcho, mas muitas delas têm também origem dos países vizinhos como Argentina e Uruguai.

Poncho, por exemplo, é algo que compõe a vestimenta do gaúcho, porém a origem da palavra é uruguaia, já que o Uruguai também carrega a tradição del Gaucho.

O a la pucha expressão usada para demonstrar surpresa, nada mais é que uma expressão de origem uruguaia, de los hermanos de la frontera. Existe uma banda gaúcha chamada Os Serranos que tem uma música muito famosa chamada “Ala pucha tchê” e o primeiro verso é mais ou menos assim:

A la pucha tchê, não se assustemo...

Na fronteira também é muito comum ouvir o diminutivo devagarzito, muito usado por quem fala português e que vem da influência do espanhol, fazendo mescla do “devagar” com o diminutivo no espanhol ito, como em despacito.

Temos também o “solito”, palavra usada para dizer que estás sozinho, também de origem do espanhol.

“Ranchito”, essa é bem sulista, para falar da casa, do nosso lar. Meu ranchito, essa até eu fiquei surpresa! pois, é outra palavra derivada do espanhol que a gente foi ouvindo na fronteira e agregando ao vocabulário sulista.

Na fronteira, dificilmente você ouvirá “obrigado”, aqui o gracias já é uma palavra usada pela maior parte dos brasileiros também.

Essa parece estranha, mas não é comum falar ladeado no português brasileiro, certo? Pois bem, na fronteira ao invés de falar de lado dizemos que algo está ladeado. Ladeado é usado para falar que algo está de lado, ou está torto. Por exemplo: “O quadro da sala tá meio ladeado”. Em espanhol, o verbo ladear tem exatamente esse mesmo uso, que é inclinar algo, colocar meio de lado.

E agora vamos falar de dança: em espanhol para falar de dança dizemos bailar, e na fronteira também é assim, aqui é muito difícil que te chamem para dançar, já que o comum é bailar.

Isso me faz lembrar de uma expressão que meu pai sempre dizia: ¿Por qué me miras si no me sacas para bailar?

Outro exemplo bem interessante, é plata, palavra usada para falar dinheiro no espanhol de vários países, entre eles o Uruguai, e que também acabou sendo usada na fronteira, onde é comum dizer: não tenho plata / não tenho dinheiro. Nessa região o intercâmbio de dinheiro é muito forte, por isso sempre que você for a um mercado ou loja, seja no Brasil ou no Uruguai, vai encontrar as duas moedas circulando igualmente, o real brasileiro e o peso uruguaio.

E agora vamos falar de um assunto bem gostoso, comida. Aqui na fronteira é bem comum ouvir galleta ao invés de bolacha.

Na fronteira a mistura de palavras do espanhol com português acontece de forma natural, tanto que conheço gente que não fala nem português, nem espanhol, já aprendeu um pouco de cada.

Algumas palavras bem típicas dessa mistura são: Borracho, buchinche, putear e fío.

Borracho usamos para falar que alguém está bêbado; buchinche significa confusão e putear é xingar alguém.

Essa mistura se dá pelo fato de que as pessoas não vivem separadas, vivem em trânsito. Existem muitos uruguaios que trabalham no lado brasileiro e vice-versa, como disse antes.

Há quem diga que o portunhol é só uma maneira errada de falar o espanhol, mas na fronteira, está longe disso! O portunhol é um dialeto, uma língua que expressa e demonstra a união de dois países, tendo inclusive literatura escrita dessa maneira, você sabia?

Bom… mas pra falar dessa literatura, a gente precisaria de mais tempo, então vamos encerrar por aqui e deixar esse assunto para um outro episódio, combinado?

Foi ótimo dividir tudo isso com você! Espero que tenha gostado e nos vemos em breve, em outro episódio do nosso Like a Native!

¡Besitos de tu profe Cass Aragón!

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